História da
Música
Laura Aidar
Arte-educadora,
fotógrafa e artista visual
A
História da música é muito antiga, visto que desde os primórdios os homens
produziam diversas formas de sonoridade.
Esse
é um tipo de arte que trabalha com a harmonia entre os sons, o ritmo, a
melodia, a voz.
Todos esses elementos são importantes e podem nos transportar para outro tempo
e espaço, resgatar memórias e reacender emoções.
Veremos
como essa linguagem artística caminhou durante os séculos até os nossos dias para
adquirir as características que possui hoje no Ocidente.
Música na Pré-História
Pintura rupestre encontrada na
Espanha exibe várias pessoas dançando, o que sugere a presença de música também
A
humanidade possui uma relação longa com a música, sendo essa umas das formas de
manifestação cultural mais antigas.
Ainda
na pré-história, há mais de 50 mil anos, os seres humanos começaram a
desenvolver ações sonoras baseadas na observação dos fenômenos da natureza.
Os
ruídos das ondas quebrando na praia, os trovões, a comunicação entre os
animais, o barulho do vento balançando as árvores, as batidas do coração; tudo
isso influenciou as pessoas a também explorarem os sons que seus próprios
corpos produziam. Como, por exemplo, os sons das palmas, dos pés batendo no
chão, da própria voz, entre outros.
Nessa
época, tais experimentações não eram consideradas arte propriamente e estavam
relacionadas à comunicação, aos ritos sagrados e à dança.
A Evolução da Música
Música no Egito
Representação de músicos no Antigo
Egito
No
Egito Antigo, ainda em 4.000 a.C., a música era muito presente, configurando um
importante elemento religioso. Os egípcios consideravam que essa forma de arte
era uma invenção do deus Thoth e que outro deus, Osíris,
a utilizou como uma maneira para civilizar o mundo.
A
música era empregada para complementar os rituais sagrados em torno da
agricultura, que era farta na região. Os instrumentos utilizados eram harpas,
flautas, instrumentos de percussão e cítara - que é um instrumento de cordas
derivado da lira.
Música na Mesopotâmia
Músicos assírios tocando
instrumentos
Na
região da Mesopotâmia, localizada entre os rios Tigre e Eufrates, habitavam os
povos sumérios, assírios e babilônios. Foram encontradas harpas de 3 a 20
cordas na região onde os sumérios viviam e estima-se que sejam objetos com mais
de 5 mil anos. Também foram descobertas cítaras que pertenceram ao povo
assírio.
Música na China e na Índia
À esquerda, representação de
pessoa tocando instrumento na Índia; à direita, flautas chinesas encontradas
por arqueólogos
Na
Ásia - em torno de 3.000 a.C. - a atividade musical prosperou na Índia e China.
Nessas regiões, ela também estava fortemente relacionada à espiritualidade.
O
instrumento mais popular entre os chineses era a cítara e o
sistema musical utilizado era a escala de cinco tons - pentatônica.
Já
na Índia, em 800 a.C., o método musical era o de "ragas", que não
utilizava notas musicais e era composto de tons e semitons.
Música na Grécia e em Roma
Representação de pessoa tocando
instrumento na Grécia Antiga
Podemos
observar que a cultura musical na Grécia Antiga funcionava como uma espécie de
elo entre os homens e as divindades. Tanto que a palavra "música"
provém do termo grego mousikē, que significa "a arte das
musas". As musas eram as deusas que guiavam e inspiravam as ciências e as
artes.
É
importante ressaltar que Pitágoras, grande filósofo grego, foi o responsável
por estabelecer relações entre a matemática e a música, descobrindo as notas e
os intervalos musicais.
Sabe-se
que na Roma Antiga, muitas manifestações artísticas foram heranças da cultura
grega, como a pintura e a escultura. Supõe-se, dessa forma, que o mesmo ocorreu
com a música. Entretanto, diferente dos gregos, os romanos usufruíam dessa arte
de maneira mais ampla e cotidiana.
Música na Idade Média
Pintura exibindo cantores
medievais
Durante
a Idade Média a Igreja Católica esteve bastante presente na sociedade europeia
e ditava a conduta moral, social, política e artística.
Naquela
época, a música teve uma presença marcante nos cultos católicos. O Papa
Gregório I - século VI - classificou e compilou as regras para o canto que
deveria ser entoado nas cerimônias da Igreja e intitulou-o como canto
gregoriano.
Outra
expressão musical do período que merece destaque são as chamadas Cantigas
de Santa Maria, que agregam 427 composições produzidas em galego-português
e divididas em quatro manuscritos.
Uma
importante compositora medieval foi Hidelgard Von Bingen, também conhecida como
Sibila do Reino.
Música no Renascimento
Pintura de Gerard van Honthorst
(1623) retratando músicos no Renascimento
Já
na época renascentista - que compreende o século XIV até o século XVI - a
cultura sofreu transformações e os interesses estavam voltados para a razão, a
ciência e o conhecimento do próprio ser humano.
Tais
preocupações se refletiram também na música, que apresentava características
mais universais e buscava se distanciar dos costumes da Igreja.
Uma
característica significativa da música nesse período foi a polifonia,
que compreende a combinação simultânea de quatro ou mais sons.
Podemos
citar como um grande compositor da Renascença Thomas Weelkes.
Música no Barroco
O compositor italiano Antonio
Vivaldi foi um grande expoente da música barroca
A
partir do século XVII, o movimento barroco promove mudanças marcantes no
cenário musical.
Foi
um período bastante fértil e importante para a música ocidental e apresentava
novos contornos tonais, com a utilização do modo jônico (modo “maior”) e modo
eólio (modo “menor”).
O
surgimento das óperas e das orquestras de câmaras também acontece nessa fase,
assim como o virtuosismo dos músicos ao tocar os instrumentos. Os maiores
representantes da música barroca foram Antonio Vivaldi, Johann Sebastian Bach,
Domenico Scarlatti, entre outros.
Música no Classicismo
Retrato dos artistas Haydn,
Mozart e Beethoven
No
Classicismo, que corresponde ao período em torno de 1750 e 1830, a música
adquire objetividade, equilíbrio e clareza formal, conceitos já utilizados na
Grécia Antiga.
Nessa
época, a música instrumental e as orquestras ganham ainda mais destaque. O
piano toma o lugar do cravo e novas estruturas musicais são criadas, como a
sonata, a sinfonia, o concerto e o quarteto de cordas.
Os
artistas que se sobressaíram são Haydn, Mozart e Beethoven.
Música no Romantismo
Pintura retratando o compositor Fréderic Chopin
No
século XIX, o movimento cultural que surgiu na Europa foi o Romantismo. A
música predominante tinha como qualidades a liberdade e a fluidez, e primava
também pela intensidade e vigor emocional.
Esse
período musical é inaugurado pelo compositor alemão Beethoven - com a Sinfonia
nº3 - e passa por nomes como Chopin, Schumann e sua esposa Clara
Shumann, Wagner, Verdi, Tchaikovsky, R. Strauss, entre outros.
Música no Século XX
No
século XX, a música ganha nova roupagem e uma grande transformação ocorre com o
surgimento do rádio.
Novas
tecnologias e suportes para a gravação e divulgação musical ajudam a
popularizar essa linguagem artística e projetar cantores e compositores, já que
eles não dependiam somente dos concertos musicais.
Com
uma cartela de opções mais variadas, o público começa a ter contato com outros
tipos de música.
É
importante também destacar a presença da música atonal - ou
seja, que não possui um centro tonal nem uma tonalidade preponderante. Há
também a dodecafônica, que trata as doze notas da escala
cromática como equivalentes.
Alguns
artistas também passam a incorporar novos elementos em suas produções, como
instrumentos até então pouco explorados e objetos sonoros.
Um
exemplo é o multi-instrumentista brasileiro Hermeto Pascoal, que tira sons
tanto de flautas e pianos como de objetos do cotidiano como chaleiras, pentes,
copos d'água e brocas de dentistas. A compositora Adriana Calcanhoto também
possui um projeto de música infantil que faz uso de diversos brinquedos para
produzir suas composições.
Podemos
citar como grandes nomes da música do século XX o brasileiro Heitor
Villa-Lobos, o russo Igor Stravinsky, o nigeriano Fela Kuti, a pianista carioca
Chiquinha Gonzaga, o norte-americano Louis Armstrong, a francesa Lili
Boulanger, o argentino Astor Piazzolla, e muitos outros.
Leia
mais sobre música e arte nos textos:
·
Gêneros
Musicais Brasileiros
êneros
Musicais Brasileiros
Laura Aidar
Arte-educadora,
fotógrafa e artista visual
No
Brasil, a população possui uma relação intensa com a música. O povo brasileiro,
de forma geral, é bastante musical, apreciando essa forma de arte em seu dia a
dia e nos momentos de lazer.
O
país é muito diverso e heterogêneo culturalmente, e apresenta distintos estilos
musicais dependendo da região. Entretanto, alguns se destacam e fazem sucesso
em todo território.
Confira
abaixo a história, as principais características e os maiores representantes
dos principais gêneros musicais do Brasil.
Sertanejo
Os artistas Almir Sater, Renato
Teixeira e Sérgio Reis são grandes nomes da música sertaneja raiz
O
estilo de música sertaneja teve sua origem no Brasil a partir da década de
1910. Ela foi produzida por compositores do campo e da cidade utilizando principalmente
a viola caipira. Chamada também de embolada ou moda de
viola, esse gênero musical se segmentou em diversos tipos:
·
Sertanejo raiz (ou música caipira)
·
Sertanejo romântico
·
Sertanejo dançante
·
Sertanejo universitário
Hoje
em dia, o sertanejo universitário é o tipo de música mais ouvido no Brasil. Nos
anos 90, esse gênero ganhou muita projeção com algumas duplas, como Chitãozinho
e Xororó, Leandro e Leonardo, entre outros. A partir dessa época, outras duplas
surgiram e consolidaram ainda mais o sertanejo no país.
Recentemente,
duplas de mulheres têm surgido e feito sucesso na cena da música sertaneja,
trazendo também temas do universo feminino para esse estilo musical.
Veja também: História do Sertanejo: a música do nosso
sertão
MPB (Música Popular Brasileira)
Festival da Record (1967) foi importante para
revelar novos talentos. Aqui, Caetano Veloso apresenta a música Alegria,
Alegria
A
MPB - sigla para Música Popular Brasileira - é um dos gênero musicais mais
apreciados no Brasil e também internacionalmente. Surgiu em meados da década de
1960 como um desdobramento da bossa nova e apresentava influência de diversos
estilos musicais, na busca de criar um genuinamente nacional.
Com
o Golpe
Militar de 1964, esse tipo de música também se
constitui um forte instrumento de luta contra a repressão. Com um conteúdo
contestador, as músicos se posicionavam de maneira contrária às injustiças
sociais e à ditadura imposta no país.
Os
artistas Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, nomes muito importantes
na história da MPB e no contexto sócio-político da época, foram obrigados a se
exilar.
Outros
artistas notáveis são Elis Regina, Djavan, Milton Nascimento, Gal Costa, Maria
Bethânia e muitos outros.
Leia
mais sobre esse gênero musical:
·
MPB
- Música Popular Brasileira
Samba
Roda de Samba - obra do artista Carybé
O samba é
um tipo de música inteiramente brasileiro, criado sobretudo pelos negros a
partir de influências africanas no período colonial.
Por
bastante tempo foi visto como uma cultura inferior, marginalizada por conta de suas
origens. Entretanto, como sempre fez parte da identidade do povo brasileiro,
esse estilo de música (e de dança também) resistiu e segue forte no país, sendo
que hoje o samba de roda baiano e o samba carioca foram
elevados a patrimônio imaterial brasileiro.
Ao
longo dos anos esse gênero musical também sofreu várias subdivisões, resultando
em:
·
Samba de Roda
·
Pagode
·
Samba de Partido Alto
·
Samba-enredo
·
Samba-canção
·
Samba-exaltação
·
Samba de Breque
·
Samba de Gafieira
São
muitos os cantores e compositores que fazem samba. Alguns nomes importantes
desse gênero são: Arlindo Cruz, Alcione, Paulinho da Viola, Martinho da Vila,
Beth Carvalho, Paulo César Pinheiro, Clara Nunes, entre outros.
Veja também: Samba de Roda
Forró
Xilogravura retratando o forró
O
estilo de música e de dança forró é uma manifestação cultural típica da região
Nordeste e muito tocada na época das festas juninas e quadrilhas.
Apreciada
em todo o Brasil, foi disseminada pelo país através dos migrantes nordestinos
que saíam de seu lugar de origem em busca de melhores condições de vida,
principalmente na década de 1960 e 1970.
Segundo
o historiador e antropólogo Câmara Cascudo, o termo forró provém
da palavra "forrobodó", que significa divertimento, farra.
O
forró tem como base instrumental a zabumba, o triângulo e a sanfona; é
subdividido nos ritmos xote, baião e xaxado. Com o tempo também se incluiu
outros instrumentos e características a esse tipo de música, o que gerou ainda
o forró universitário e eletrônico, surgidos na década de 1990.
Como
representantes do forró tradicional temos os artistas Dominguinhos, Luiz
Gonzaga e Jackson do Pandeiro.
Veja também: História do Forró
Rock
Cássia Eller é um dos grandes
nomes do rock nacional.
O
rock é um gênero musical que faz bastante sucesso no Brasil.
Surgido
nos EUA nos anos 50, esse estilo foi incorporado por artistas brasileiros a
partir da década de 1960 e conta com a presença de instrumentos como bateria,
guitarra elétrica e baixo.
Com
sucessos interpretados por Celly Campello e mais tarde por cantores da
chamada Jovem
Guarda - como Roberto Carlos, Erasmos Carlos e
Wanderléa - eram músicas que animavam sobretudo os jovens, com letras
românticas e ritmos frenéticos.
Já
nos anos 70, surgiram outros grupos e artistas que usavam essa linguagem
musical. É o caso de Raul Seixas, Secos e Molhados e Os Mutantes.
Anos
mais tarde, a cena do rock nacional ganhou contornos mais urbanos e trazia
letras que falavam sobre o cotidiano, com bandas e cantores como Legião Urbana,
Barão Vermelho, Titãs, Cássia Eller, entre outras.
Para
saber mais, leia: Rock:
a origem e história do Rock and Roll
Funk
A cantora Anitta é uma
representante do funk carioca
O
funk teve origem nos anos 60 nos EUA e surgiu a partir de influências da música
negra. O nome de maior destaque na época foi James Brown.
A
maior característica desse estilo é o ritmo marcado e empolgante, com forte
apelo à dança. Esse gênero foi sofrendo várias transformações ao longo das
décadas e hoje é bem diferente do que era no início.
Em
solo brasileiro, o funk aparece nos anos 70 através de cantores como Tim Maia e
Tony Tornado.
Até
que na década de 80 surge o funk carioca, que mesclava o hip hop com um som
eletrônico. De lá para cá muitos elementos foram incorporados, como letras que
tratavam de interesses da juventude suburbana. Assim, o funk tornou-se,
sobretudo, parte da cultura periférica brasileira.
Saiba
mais sobre esse gênero musical: Origem do funk
Curiosidades
·
Celebra-se o Dia Mundial do Rock em
13 de julho. A comemoração teve origem em 1985, quando ocorreu o
megaevento Live Aid, realizado nesse dia. O festival teve lugar na
Inglaterra, EUA, Austrália, Rússia e Japão e tinha como objetivo angariar
fundos em combate à fome na Etiópia.
·
O Dia do Sertanejo é festejado em 3
de maio. Há 55 anos a Radio Aparecida presta uma homenagem ao
povo do campo e ao costumes dos violeiros em visitar Aparecida, demostrar sua
fé e tocar sua música.
·
O samba possui o dia 2 de dezembro
reservado para sua celebração. Tal data surgiu por iniciativa de Luis Monteiro
da Costa, vereador baiano. A escolha foi uma homenagem a Ary Barroso,
importante sambista, que teria visitado a Bahia pela primeira vez nesse dia.
·
No Brasil, é celebrado em 13 de
dezembro o Dia Nacional do Forró, data de nascimento do sanfoneiro Luiz
Gonzaga.
·
O Dia Nacional da MPB acontece
anualmente em 17 de outubro. Essa é uma homenagem à compositora Chiquinha
Gonzaga, nascida nessa data em 1847, no Rio de Janeiro.
Leia
mais:
Músicas
Folclóricas
Daniela Diana
Professora
licenciada em Letras
As músicas
folclóricas são canções populares e tradicionais que fazem parte da
sabedoria de um povo.
Esse
tipo de manifestação musical é transmitido pela tradição oral e, muitas vezes,
o autor da mesma já foi esquecido ou nem mesmo chegou a ser conhecido.
De
qualquer modo, estes músicos anônimos dificilmente são profissionais,
independentemente do talento.
Confira
abaixo as principais músicas folclóricas que fazem parte da cultura brasileira:
Tela da artista Aracy retratando
ciranda. Normalmente, as crianças cantam músicas folclóricas nas cirandas
Pombinha Branca
Pombinha
branca, que está fazendo?
Lavando roupa pro casamento
Vou me lavar, vou me trocar
Vou na janela pra namorar
Passou um moço, de terno branco
Chapéu de lado, meu namorado
Mandei entrar
Mandei sentar
Cuspiu no chão
Limpa aí seu porcalhão!
Veja também: Folclore brasileiro:
lendas e suas manifestações
O Cravo e a Rosa
O
cravo brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada,
O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar,
O cravo teve um desmaio,
E a rosa pôs-se a chorar.
Marcha Soldado
Marcha
soldado
Cabeça de papel
Quem não marchar direito
Vai preso pro quartel
O quartel pego fogo
A policia deu sinal
Acode, acode, acode a bandeira nacional
Veja também: Brincadeiras
Folclóricas
Alecrim
Alecrim,
alecrim dourado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado
Oi, meu amor,
Quem te disse assim,
Que a flor do campo
É o alecrim?
Veja também: Danças Folclóricas
Se essa rua fosse minha
Se
essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Para o meu
Para o meu amor passar
Veja também: Dia do Folclore
Escravos de Jó
Os
escravos de Jó
Jogavam caxangá
Tira, põe,
Deixa o zabelê ficar
Guerreiros com guerreiros
Fazem ziguezigue zá
Guerreiros com guerreiros
Fazem ziguezigue zá
Fui ao Tororó
Fui
no Tororó beber água não achei
Achei bela Morena
Que no Tororó deixei
Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada
Oh!
Dona Maria,
Oh! Mariazinha, entra nesta roda
Ou ficarás sozinha!
Marinheiro só
Oi,
marinheiro, marinheiro,
Marinheiro só
Quem te ensinou a navegar?
Marinheiro só
Foi o balanço do navio,
Marinheiro só
Foi o balanço do mar
Marinheiro só
Veja também: 31 Cantigas de roda
para brincar com as crianças
Meu limão, meu limoeiro
Meu
limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Uma vez, tindolelê,
Outra vez, tindolalá
A barata diz que tem
A
barata diz que tem sete saias de filó
É mentira da barata, ela tem é uma só
Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só
A
Barata diz que tem um sapato de veludo
É mentira da barata, o pé dela é peludo
Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo!
A
Barata diz que tem uma cama de marfim
É mentira da barata, ela tem é de capim
Ah ra ra, rim rim rim, ela tem é de capim
Peixe vivo
Como
pode o peixe vivo
Viver fora d’água fria?
Como pode o peixe vivo
Viver fora d’água fria?
Como
poderei viver,
Como poderei viver,
Sem a tua, sem a tua,
Sem a tua companhia?
Os
pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Por me ver assim chorando
Sem a tua, sem a tua companhia
A canoa virou
A
canoa virou
Por deixá-la virar,
Foi por causa da Maria
Que não soube remar
Siriri
pra cá,
Siriri pra lá,
Maria é velha
E quer casar
Se
eu fosse um peixinho
E soubesse nadar,
Eu tirava a Maria
Lá do fundo do mar
Boi da cara preta
Boi,
boi, boi
Boi da cara preta
Pega esta criança que tem medo de careta
Não,
não, não
Não pega ele não
Ele é bonitinho, ele chora coitadinho
Cachorrinho
Cachorrinho
está latindo lá no fundo do quintal
Cala a boca, Cachorrinho, deixa o meu benzinho entrar
Ó
Crioula lá! Ó Crioula lá, lá!
Ó Crioula lá! Não sou eu quem caio lá!
Atirei
um cravo n’água de pesado foi ao fundo
Os peixinhos responderam, viva D. Pedro Segundo
Capelinha de melão
Capelinha
de Melão é de São João
É de Cravo é de Rosa é de Manjericão
São João está dormindo
Não acorda não!
Acordai, acordai, acordai, João!
Principais Características da Música
Folclórica
·
Criação espontânea;
·
Simplicidade e repetição nas letras;
·
Relação com grupos regionais;
·
Constitui uma herança cultural;
·
Sofre variações dependendo da região;
·
Transmitida de geração em geração;
·
Não possui autor conhecido, sendo uma
"criação coletiva".
Ciranda (1942), de Milton Dacosta.
As
melodias folclóricas refletem o estilo local e preservam uma herança
cultural regional durante longos períodos, visto que encontramos
músicas muito antigas.
As
mesmas podem ser interpretadas por um solista num país ou por um coro noutra
nação; serem pentatônicas numa localidade ou usar escala maior noutra. É comum
a alternância entre um solista e um coro nas canções folclóricas, onde cada um
canta um verso da estrofe.
Em
todo caso, reconhecemos as músicas folclóricas pela forma de encená-la,
aprendê-la e difundi-la. Quase sempre, ela está estreitamente relacionada a
grupos étnicos, regionais e nacionais.
Outra
característica marcante das canções folclóricas é o fato delas sofrerem
mudanças ao serem transmitidas de intérprete para intérprete.
Como
são muitas as pessoas envolvidas na criação das músicas, ocorre o que se
convencionou chamar de "Recriação Coletiva". Assim, se
consolida a função regional de cantigas originadas em locais diferentes.
Em
função dessas afinidades, os grupos de canções folclóricas se reúnem segundo
famílias melódicas e o número dessas famílias melódicas podem variar muito num
mesmo repertório.
Neste
processo, essas melodias vão mudando gradualmente e gerando variantes regionais
e temporais.
Em
termos de classificação conceitual, costuma-se opor a música folclórica àquela
feita pela sociedade industrial, nos altos círculos da cultura urbana.
Esta
comparação é um fruto da descendência cultural da música tradicional ou
folclórica, a qual é essencialmente rural, ou, no mínimo, grandemente
influenciada por esse meio.
A
música folclórica é comum em comunidades mais isoladas, ou seja, em locais onde
os meios de comunicação de massa e outros fatores da globalização ainda não
chegaram de todo para afetar aquelas populações.
Veja também: Samba de Roda
Tipos de Músicas Folclóricas
As
músicas folclóricas abarcam quase todos os tipos de temáticas humanas.
Geralmente as letras são simples e possuem muitas repetições, característica
muito notória e que facilita a memorização.
Dentre
essas músicas, existem as canções de dança, consideradas as mais antigas
das cantigas populares e utilizadas para marcar o compasso da dança.
Assim
também são as cantigas para as danças e os jogos infantis, mais conhecidas
como cantigas de roda.
Uma
cantiga de roda que merece destaque é "Ciranda Cirandinha":
Ciranda,
cirandinha
Vamos todos cirandar!
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar
O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.
Outras
cantigas folclóricas muito conhecidas são as canções de ninar, utilizadas
para embalar o sono das crianças. Uma das mais populares é a "Nana
neném":
Nana
neném
Que a cuca vem pegar
Papai foi pra roça
Mamãe no cafezal
Bicho-papão
Saia do Telhado
Deixa o neném
dormir sossegado
Existem
também as cantigas de trabalho, que são músicas entoadas durante a
lida. Podem ser cantadas individualmente ou em grupo.
Além
dessas, há músicas folclóricas que se cantam em velórios, marchas de guerra e
outras ocasiões.
Veja também: As 43 Cantigas de Roda mais Populares do
Brasil
Quiz do Folclore
7Graus
Quiz - Quiz | Quanto você sabe sobre o folclore brasileiro?
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Cantigas
de Ninar - Folclore
MPB - Música
Popular Brasileira
Laura Aidar
Arte-educadora,
fotógrafa e artista visual
A
música popular brasileira resulta de um conjunto de manifestações culturais de
influência indígena, africana e europeia.
Já
o gênero musical MPB (Música Popular Brasileira) é uma referência à produção
nacional desenvolvida a partir de um movimento cultural originado após o golpe
militar de 1964.
A
maioria das músicas produzidas no período contestava a ditadura, trazendo
questionamentos sobre a situação brasileira de forma poética.
O Movimento MPB
A
década de 60 é considerada um período de ebulição na música brasileira. É
quando passam a coexistir o samba, o jazz, a bossa nova, o sertanejo de raiz, a
moda de viola, o baião nordestino, o rock e outros.
Esse
período é considerado um marco para o cenário da música nacional. Compositores
e intérpretes passam a mesclar influências da bossa nova com estilos sonoros
produzidos nos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes.
O
contexto era o da Ditadura Militar, que cassou direitos e restringiu a
liberdade, censurando os movimentos culturais. É nessa conjuntura que jovens
músicos começam a contestar o duro regime, criando letras inteligentes e de
protesto, muitas vezes de forma disfarçada.
A
partir dessa fase é popularizada a sigla MPB como marca de um movimento próprio
de contestação social e política.
Além
disso, outros temas também foram abordados, como as relações amorosas.
Os
Festivais de Música, ou Festivais da Canção, realizados nos anos 60 e
transmitidos na televisão, foram muito importantes para que músicos e
compositores do período ficassem conhecidos.
Confira
um vídeo do Festival de Música Brasileira da TV Record em 1967, em que Chico
Buarque o grupo Mpb4 cantam Roda Viva.
Roda Viva - Chico
Buarque e Mpb4 (1967)
Nomes da MPB
São
muitos os grandes nomes da MPB, sendo difícil listar todas as personalidades
importantes desse gênero. Entretanto, podemos destacar o carioca Chico
Buarque como um dos maiores representantes, ao lado de Caetano
Veloso, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Milton Nascimento,
Edu Lobo, Nara Leão, Elis Regina, Maria Bethânia,
Gonzaguinha, Tom Zé, Os Mutantes, entre outros.
Há
ainda o baiano Raul Seixas, que muda a era do rock nacional
revelado pela Jovem Guarda. O artista impõe letras marcadas pela contrariedade
à rotina, à exploração social e do trabalho.
Como
movimento, a MPB também é manifestada pelo lirismo, com letras que abordam as
relações amorosas. Nessa faceta da MPB, Chico Buarque é elevado a uma espécie
de tradutor da alma feminina, revelando seus desejos, culpas e sonhos no estilo
denominado "cantiga e amigo".
Manifestação
semelhante é observada no trabalho de Caetano e Gil, além de outros, como
Djavan, Gal Costa, Simone e Leila Pinheiro.
História da Música Popular Brasileira
A
música sempre esteve presente na rotina das populações nativas do Brasil em
rituais e festas religiosas, antes do descobrimento. O canto era entoado para
embalar o bate-pau, danças ritmadas com o uso do bambu.
A
chegada do colonizador português representou incremento na sonoridade, com
instrumentos como violão, viola, cavaquinho, tambor e pandeiro. Até os dias
atuais, esses são elementos que remetem à identidade musical local,
principalmente no samba.
Somente
no século XVII, instrumentos de harmonia mais sofisticada, como o piano, foram
incorporados ao arsenal musical local. Ainda assim, ficavam restritos às
famílias nobres ou abastadas.
O
colonizador português utilizou a música como instrumento de catequese. Os
padres jesuítas musicaram peças teatrais e autos como forma de facilitar a
compreensão do evangelho. O padre José de Anchieta é reconhecido como
compositor de muitas dessas peças e autos.
A
tradição das danças, do ritmo e do som africanos foi decisiva para as atuais
manifestações da música nacional. O batuque, extraído de instrumentos como
atabaques, cuíca, reco-reco, pandeiro e tambor, formam a base do que seria,
mais tarde, o samba.
A
música popular brasileira também recebeu influência francesa, manifestada nas
tradicionais quadrilhas. A dança em pares, comum nas festas de São João, é uma
alegoria às danças da corte francesa.
A
partir de 1800, a mistura de influências já resulta na composição de modinhas e
popularizam o ritmo lundu. Entre os mais reconhecidos compositores de modinha
estão Padre José Maurício Nunes, Francisco Manuel da Silva e Cândido Inácio da
Silva.
As
composições de modinhas e o lundu foram incrementadas com a sonoridade erudita
e influenciam para o surgimento de novos ritmos, como a polca, o maxixe e o
choro.
O
ano de 1870 é tido como ponto de partida do choro, que notabilizou
muitos artistas, entre eles Chiquinha Gonzaga. Em 1899, a maestrina
e pianista carioca lança "Ó Abre Alas", a primeira marchinha de
Carnaval.
O
pioneirismo de Chiquinha Gonzaga foi reconhecido por meio da Lei Federal N.º
12.624, que instituiu o dia 17 de outubro como o "Dia da Música Popular
Brasileira". A data lembra o aniversário da artista. A trajetória de
Chiquinha influencia compositores como Anacleto de Medeiros, Irineu Almeida e
Pixinguinha.
As
composições de Pixinguinha representaram um divisor de águas
na história da música popular brasileira. Isso ocorreu por estarem diretamente
ligadas ao surgimento do samba.
O
gênero samba, que surge a partir de 1917, é considerado uma revolução e inspira
compositores como Ernesto Joaquim Maria dos Santos e Mauro de Almeida.
Pixinguinha, porém, é sua melhor tradução.
Até
1950, choro e samba revelam nomes como Jacob do Bandolim e Nelson Gonçalves.
Essa é a época da chamada "Era do Rádio", com a influência de
intérpretes como Dalva de Oliveira, Caubi Peixoto e Ângela Maria.
O
início dos anos 50 também são destacados pela influência de Cartola,
considerado um dos maiores mestres do samba nacional. A melodia de Cartola é
revelada também na voz da gaúcha Elis Regina.
Paralelo
ao sucesso do samba e do choro, surge nos anos 50 o movimento que ficou conhecido
como Bossa Nova. O movimento demonstra o cotidiano local, em
especial o carioca e sua malemolência.
A
melodia suave foi perpetuada por Tom Jobim,
com letras de Vinicius de Moraes. A Bossa Nova evidenciava a mistura da música
erudita aos ritmos nacionais e recebeu reconhecimento internacional.
Entre
seus representantes está também o compositor e intérprete João Gilberto.
Esse
gênero é o ponto de partida para movimentos que ocorrem em paralelo entre o fim
da década de 50 e a década de 60. São a Tropicália e Jovem Guarda, que apontam
o cotidiano, mas demonstram a rebeldia, o questionamento às instituições
oficiais.
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Arte-educadora,
artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade
Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de
Arte e Design.
Como
citar?
Veja
também
- Músicas da
Ditadura Militar
- Gêneros
Musicais Brasileiros
- História do Forró
- Jazz
- Notas Musicais
- História
do Samba
- Tom
Jobim
- Bossa
Nova
Músicas da
Ditadura Militar
Juliana Bezerra
Professora de
História
A música
popular brasileira foi um dos principais instrumentos utilizados para
contestar a ditadura militar (1964-1985).
As
letras de várias canções indicavam a insatisfação com o regime e vários
compositores foram alvo de censura e perseguição.
Apontando
insatisfação direta ou usando metáforas, tiveram que se auto exilar para evitar
as sucessivas convocações para depoimentos e a possibilidade de prisão.
Vejamos
agora seis canções que ajudam a entender este período:
1. Apesar de você (Chico Buarque,
1970)
Capa do disco "Apesar de
você", de 1978
O
compositor, cantor, dramaturgo e escritor carioca Chico Buarque tem uma das
maiores produções voltadas para a crítica à ditadura militar. Seu trabalho
recebe influências do samba e do lirismo do cotidiano.
Ao
fim da década de 60, foi criticado por não se posicionar politicamente, mas
quando o fez, precisou buscar o autoexílio em Roma em 1968, e só retornou ao
Brasil em 1970.
Seguindo
o conselho do poeta Vinícius de Moraes, o compositor volta ao Brasil fazendo
barulho. Submete a letra da canção "Apesar de você" à censura
e explica que se tratava de uma briga de casal. O ritmo escolhido, o samba, não
deixava dúvidas que se tratava de um tema de ruptura amorosa.
Os
censores não perceberam a mensagem que escondia em cada uma das metáforas e,
para a surpresa do compositor, liberaram a obra. "Apesar de você"
foi lançada como um single (disco que continha apenas duas
músicas, uma em cada lado do vinil).
Desde
o primeiro verso "Amanhã vai ser outro dia", fazendo
referência a uma possível queda dos militares, a letra criticava o regime
militar. A música alcançou um sucesso estrondoso e foi tocada nas rádios de
todo o país. Quando os militares quiseram censurá-la, já era tarde.
"Apesar
de você" seria liberada em 1978 e faria
parte do disco que reuniria outras canções famosas de Chico Buarque como "Tanto
mar" e "Homenagem ao Malandro".
Apesar de você
Hoje
você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
(.....)
Apesar
de você
Amanhã há de ser
Outro dia
2. Pra não dizer que não falei das
flores (Geraldo Vandré,1967)
Geraldo Vandré se apresenta no
Festival de 1968
É
do paraibano Geraldo Vandré uma das músicas mais entoadas nas passeatas
realizadas contra regime militar. A canção "Pra não dizer que não
falei das flores" retrata a realidade brasileira ao mesmo tempo
que conclamava a população a reagir contra a situação política que vivia o
país.
Versos
como "Pelos campos há fome/ em grandes plantações" revelavam
a desigualdade sócio-econômica do Brasil. Por outro lado, "Vem,
vamos embora/ Que esperar não é saber" era um convite para mudar
a situação do momento.
O
tema foi apresentado no Festival Internacional da Canção em 1968, mas perdeu
para "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim.
Interpretada pelo pelo duo Cynara e Cybele, a canção recebeu uma estrondosa
vaia do público.
Geraldo
Vandré deixou o Brasil naquele ano e só voltaria em 1973, sem jamais ter
voltado ao cenário artístico brasileiro.
Apesar
de a música ter sido amplamente usada pelos opositores da ditadura, Vandré
jamais concordou com o uso que parte da esquerda fez de sua composição.
Definia-a como uma "música urbana e crônica da realidade" e não como
canção de protesto.
Nunca
escondeu sua admiração pela Aeronáutica e inclusive escreveu
"Fabiana" em homenagem à Força Aérea Brasileira (FAB).
Geraldo vandré ( ao
vivo no maracanãzinho )
Pra não dizer que não falei das
flores
Pelos
campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem,
vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Veja também: AI-5 (Ato
Institucional nº 5)
3. O bêbado e a equilibrista (Aldir
Blanc e João Bosco, 1975)
Os compositores João Bosco e
Aldir Blanc
Ambos
recorreram a metáforas para
aludir a fatos nunca explicados pela ditadura militar, como a queda do elevado
Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro ("Caía a tarde feito um
viaduto").
Igualmente,
o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, é retratado através da frase "Choram
Marias e Clarices". A Clarice mencionada faz referência a Clarice
Herzog, esposa de Vladimir.
Inicialmente,
a letra homenageava a Charles Chaplin e seu célebre personagem, Carlitos. No
entanto, a partir de um encontro com o cartunista Henfil, foram acrescentados
os versos em alusão ao "irmão de Henfil", Betinho, que estava
exilado.
Também
lançam mão de expressões populares como "pátria mãe gentil" e
ditados como "o show tem que continuar" a fim de tornar a
letra acessível a todos os públicos.
A
canção resume o sentimento daqueles que clamavam pela anistia aos exilados e a
quem perdeu os direitos políticos. Foi gravada em 1979, no mesmo ano em que é
assinada a Lei da Anistia e se tornou um hino daqueles tempos.
Elis Regina O Bêbado e
A Equilibrista
O bêbado e a equilibrista
E
nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu
Brasil!
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil
Veja também: Vladimir Herzog
4. Cálice (Gilberto Gil e Chico
Buarque, 1973)
Gilberto Gil e Chico Buarque,
autores de Cálice
O
cantor e compositor Gilberto Gil escreveu em parceria com Chico Buarque uma das
mais marcantes canções em oposição à ditadura. "Cálice" foi
composta em 1973, mas só foi liberada pela censura em 1975.
A
obra é uma metáfora ao momento de súplica de Jesus Cristo, consciente de que
será morto, para que o Pai afaste dele o cálice (destino). Contudo, Gilberto
Gil aproveitou da paronomásia produzida
pelos som das sílabas, pois é possível também escutar "cale-se" do
verbo calar-se.
Assim,
a letra induz que seja afastado do povo o "cale-se", ou seja, a
censura, imposta pelos ditadores.
Na
história bíblica, Jesus Cristo sabe que será torturado e que a morte será marcada
por sangue. Da mesma maneira, a canção denuncia o sangue derramado pelos
torturados nos porões da ditadura.
A
melodia e o coro tornam a letra mais impactante. Em uma das gravações, com
Chico Buarque e Milton Nascimento, a palavra "cale-se" é repetida
cada vez mais forte pelo coro masculino realizado pelo quarteto MPB4.
Na
última vez que a estrofe é repetida, os instrumentos desaparecem, e o efeito
das vozes solistas acompanhadas pelo coro tornam a mensagem perturbadora.
Cálice (Cale-se).
Chico Buarque & Milton Nascimento.
Cálice
Como
beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai,
afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Veja também: O que é ditadura?
5. Alegria, alegria (Caetano Veloso,
1967)
Caetano Veloso e Gilberto Gil
durante o exílio em Londres
As
canções do baiano Caetano Veloso também marcaram a crítica contra a ditadura.
Entre as mais importantes está "Alegria, alegria", que inaugura o
movimento Tropicalismo no Brasil.
A
música foi apresentada no Festival da Canção, em 1967, e terminou em 4º lugar.
Mais tarde, seria consagrada como uma das mais importantes da história
brasileira.
Trata-se
de uma marcha com forte acento da música pop americana. Caetano Veloso
acrescenta guitarras à instrumentação, fiel a sua proposta de canibalizar as
influências estrangeiras.
A
letra pode ser entendida como as impressões que uma pessoa se depara quando
está "caminhando contra o vento". Na rua, ela vê "O
sol nas bancas de revista/ Me enche de alegria e preguiça/Quem lê tanta notícia".
Da mesma forma faz referência à situação política que atravessava o Brasil
"Por entre fotos e nomes/ Sem livros e sem fuzil".
No
último verso, um desejo que se tornaria profético para todos os opositores à
ditadura militar "Eu quero seguir vivendo, amor". A letra foi
considerada desrespeitosa e não passou pelo crivo dos censores.
Caetano
Veloso seguiu com Gilberto Gil para o autoexílio entre 1969 e 1971, em Londres.
Alegria, Alegria
(Remastered 2006)
Alegria, alegria
Ela
pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento
Eu vou
Eu
tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção consola
Eu vou
Por
entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome sem telefone
No coração do Brasil
Veja também: Tropicalismo
6. Debaixo dos caracóis dos seus
cabelos (Roberto e Erasmo Carlos,1971)
Erasmo e Roberto Carlos
Ícone
da música romântica, Roberto Carlos, liderava a Jovem Guarda,
que introduziu o rock n'roll no cotidiano do brasileiro.
Roberto Carlos não se declarou contra o regime, e sua música, que falava dos
problemas da juventude, fizeram o artista ser visto como simpático à ditadura
militar.
No
entanto, em 1969, Gilberto Gil e Caetano Veloso são "convidados" a se
retirar do país e vão para Londres. Ali, Veloso escreveria uma de suas maiores
baladas, "London, London", que descrevia a tristeza que sentia
por estar longe da Bahia.
Roberto
Carlos teve oportunidade de visitá-lo na capital britânica e, ao voltar para o
Brasil, decidiu fazer uma canção em homenagem ao amigo. No entanto, se falasse
de Caetano explicitamente, a letra seria censurada. A solução foi recorrer
à metonímia e
utilizar os cabelos encaracolados de Caetano Veloso para aludir ao artista sem
precisar dizer seu nome.
Escrita
em parceria com Erasmo Carlos, a letra faz menção à tristeza que Caetano estava
vivendo no exílio. O sentimento é expresso em versos como "E o seu
olhar tristonho/deixa sangrar no peito/Uma saudade, um sonho".
Contudo, também dava apoio e esperança ao amigo ao mencionar a "areia
branca" e a "água azul do mar" das praias baianas.
O
protesto não foi notado pelos censores, acostumados às letras que tratavam de
amor e paixão de maneira rocambolesca.
Caetano
Veloso e Roberto Carlos realizaram inúmeras gravações desta música ao longo de
suas carreiras.
Roberto Carlos -
Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos (Áudio Oficial)
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma
história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante
Você
anda pela tarde
E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho
Um
dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso
Veja também: MPB - Música Popular
Brasileira
Leia
nossos textos sobre Ditadura Militar no Brasil:
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Questões
sobre a Ditadura Militar