terça-feira, 2 de maio de 2023

História da Música

 

História da Música

Laura Aidar

Laura Aidar

 

Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

A História da música é muito antiga, visto que desde os primórdios os homens produziam diversas formas de sonoridade.

Esse é um tipo de arte que trabalha com a harmonia entre os sons, o ritmo, a melodia, a voz.
Todos esses elementos são importantes e podem nos transportar para outro tempo e espaço, resgatar memórias e reacender emoções.

Veremos como essa linguagem artística caminhou durante os séculos até os nossos dias para adquirir as características que possui hoje no Ocidente.

Música na Pré-História

música na pré históriaPintura rupestre encontrada na Espanha exibe várias pessoas dançando, o que sugere a presença de música também

A humanidade possui uma relação longa com a música, sendo essa umas das formas de manifestação cultural mais antigas.

Ainda na pré-história, há mais de 50 mil anos, os seres humanos começaram a desenvolver ações sonoras baseadas na observação dos fenômenos da natureza.

Os ruídos das ondas quebrando na praia, os trovões, a comunicação entre os animais, o barulho do vento balançando as árvores, as batidas do coração; tudo isso influenciou as pessoas a também explorarem os sons que seus próprios corpos produziam. Como, por exemplo, os sons das palmas, dos pés batendo no chão, da própria voz, entre outros.

Nessa época, tais experimentações não eram consideradas arte propriamente e estavam relacionadas à comunicação, aos ritos sagrados e à dança.

A Evolução da Música

Música no Egito

Música no Egito AntigoRepresentação de músicos no Antigo Egito

No Egito Antigo, ainda em 4.000 a.C., a música era muito presente, configurando um importante elemento religioso. Os egípcios consideravam que essa forma de arte era uma invenção do deus Thoth e que outro deus, Osíris, a utilizou como uma maneira para civilizar o mundo.

A música era empregada para complementar os rituais sagrados em torno da agricultura, que era farta na região. Os instrumentos utilizados eram harpas, flautas, instrumentos de percussão e cítara - que é um instrumento de cordas derivado da lira.

Música na Mesopotâmia

música na mesopotâmiaMúsicos assírios tocando instrumentos

Na região da Mesopotâmia, localizada entre os rios Tigre e Eufrates, habitavam os povos sumérios, assírios e babilônios. Foram encontradas harpas de 3 a 20 cordas na região onde os sumérios viviam e estima-se que sejam objetos com mais de 5 mil anos. Também foram descobertas cítaras que pertenceram ao povo assírio.

Música na China e na Índia

música na antiguidadeÀ esquerda, representação de pessoa tocando instrumento na Índia; à direita, flautas chinesas encontradas por arqueólogos

Na Ásia - em torno de 3.000 a.C. - a atividade musical prosperou na Índia e China. Nessas regiões, ela também estava fortemente relacionada à espiritualidade.

O instrumento mais popular entre os chineses era a cítara e o sistema musical utilizado era a escala de cinco tons - pentatônica.

Já na Índia, em 800 a.C., o método musical era o de "ragas", que não utilizava notas musicais e era composto de tons e semitons.

Música na Grécia e em Roma

música gregaRepresentação de pessoa tocando instrumento na Grécia Antiga

Podemos observar que a cultura musical na Grécia Antiga funcionava como uma espécie de elo entre os homens e as divindades. Tanto que a palavra "música" provém do termo grego mousikē, que significa "a arte das musas". As musas eram as deusas que guiavam e inspiravam as ciências e as artes.

É importante ressaltar que Pitágoras, grande filósofo grego, foi o responsável por estabelecer relações entre a matemática e a música, descobrindo as notas e os intervalos musicais.

Sabe-se que na Roma Antiga, muitas manifestações artísticas foram heranças da cultura grega, como a pintura e a escultura. Supõe-se, dessa forma, que o mesmo ocorreu com a música. Entretanto, diferente dos gregos, os romanos usufruíam dessa arte de maneira mais ampla e cotidiana.

Música na Idade Média

canto medievalPintura exibindo cantores medievais

Durante a Idade Média a Igreja Católica esteve bastante presente na sociedade europeia e ditava a conduta moral, social, política e artística.

Naquela época, a música teve uma presença marcante nos cultos católicos. O Papa Gregório I - século VI - classificou e compilou as regras para o canto que deveria ser entoado nas cerimônias da Igreja e intitulou-o como canto gregoriano.

Outra expressão musical do período que merece destaque são as chamadas Cantigas de Santa Maria, que agregam 427 composições produzidas em galego-português e divididas em quatro manuscritos.

Uma importante compositora medieval foi Hidelgard Von Bingen, também conhecida como Sibila do Reino.

Música no Renascimento

música no renascimentoPintura de Gerard van Honthorst (1623) retratando músicos no Renascimento

Já na época renascentista - que compreende o século XIV até o século XVI - a cultura sofreu transformações e os interesses estavam voltados para a razão, a ciência e o conhecimento do próprio ser humano.

Tais preocupações se refletiram também na música, que apresentava características mais universais e buscava se distanciar dos costumes da Igreja.

Uma característica significativa da música nesse período foi a polifonia, que compreende a combinação simultânea de quatro ou mais sons.

Podemos citar como um grande compositor da Renascença Thomas Weelkes.

Música no Barroco

Antonio VivaldiO compositor italiano Antonio Vivaldi foi um grande expoente da música barroca

A partir do século XVII, o movimento barroco promove mudanças marcantes no cenário musical.

Foi um período bastante fértil e importante para a música ocidental e apresentava novos contornos tonais, com a utilização do modo jônico (modo “maior”) e modo eólio (modo “menor”).

O surgimento das óperas e das orquestras de câmaras também acontece nessa fase, assim como o virtuosismo dos músicos ao tocar os instrumentos. Os maiores representantes da música barroca foram Antonio Vivaldi, Johann Sebastian Bach, Domenico Scarlatti, entre outros.

Música no Classicismo

música clássicaRetrato dos artistas Haydn, Mozart e Beethoven

No Classicismo, que corresponde ao período em torno de 1750 e 1830, a música adquire objetividade, equilíbrio e clareza formal, conceitos já utilizados na Grécia Antiga.

Nessa época, a música instrumental e as orquestras ganham ainda mais destaque. O piano toma o lugar do cravo e novas estruturas musicais são criadas, como a sonata, a sinfonia, o concerto e o quarteto de cordas.

Os artistas que se sobressaíram são Haydn, Mozart e Beethoven.

Música no Romantismo

ChopinPintura retratando o compositor Fréderic Chopin

No século XIX, o movimento cultural que surgiu na Europa foi o Romantismo. A música predominante tinha como qualidades a liberdade e a fluidez, e primava também pela intensidade e vigor emocional.

Esse período musical é inaugurado pelo compositor alemão Beethoven - com a Sinfonia nº3 - e passa por nomes como Chopin, Schumann e sua esposa Clara Shumann, Wagner, Verdi, Tchaikovsky, R. Strauss, entre outros.

Música no Século XX

No século XX, a música ganha nova roupagem e uma grande transformação ocorre com o surgimento do rádio.

Novas tecnologias e suportes para a gravação e divulgação musical ajudam a popularizar essa linguagem artística e projetar cantores e compositores, já que eles não dependiam somente dos concertos musicais.

Com uma cartela de opções mais variadas, o público começa a ter contato com outros tipos de música.

É importante também destacar a presença da música atonal - ou seja, que não possui um centro tonal nem uma tonalidade preponderante. Há também a dodecafônica, que trata as doze notas da escala cromática como equivalentes.

Alguns artistas também passam a incorporar novos elementos em suas produções, como instrumentos até então pouco explorados e objetos sonoros.

Um exemplo é o multi-instrumentista brasileiro Hermeto Pascoal, que tira sons tanto de flautas e pianos como de objetos do cotidiano como chaleiras, pentes, copos d'água e brocas de dentistas. A compositora Adriana Calcanhoto também possui um projeto de música infantil que faz uso de diversos brinquedos para produzir suas composições.

Podemos citar como grandes nomes da música do século XX o brasileiro Heitor Villa-Lobos, o russo Igor Stravinsky, o nigeriano Fela Kuti, a pianista carioca Chiquinha Gonzaga, o norte-americano Louis Armstrong, a francesa Lili Boulanger, o argentino Astor Piazzolla, e muitos outros.

Leia mais sobre música e arte nos textos:

·    História do teatro

·    Gêneros Musicais Brasileiros

 

 

 

 

 

 

 

êneros Musicais Brasileiros

Laura Aidar

Laura Aidar

 

Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

No Brasil, a população possui uma relação intensa com a música. O povo brasileiro, de forma geral, é bastante musical, apreciando essa forma de arte em seu dia a dia e nos momentos de lazer.

O país é muito diverso e heterogêneo culturalmente, e apresenta distintos estilos musicais dependendo da região. Entretanto, alguns se destacam e fazem sucesso em todo território.

Confira abaixo a história, as principais características e os maiores representantes dos principais gêneros musicais do Brasil.

Sertanejo

Almir Sater, Renato Teixeira, Sergio ReisOs artistas Almir Sater, Renato Teixeira e Sérgio Reis são grandes nomes da música sertaneja raiz

O estilo de música sertaneja teve sua origem no Brasil a partir da década de 1910. Ela foi produzida por compositores do campo e da cidade utilizando principalmente a viola caipira. Chamada também de embolada ou moda de viola, esse gênero musical se segmentou em diversos tipos:

·    Sertanejo raiz (ou música caipira)

·    Sertanejo romântico

·    Sertanejo dançante

·    Sertanejo universitário

Hoje em dia, o sertanejo universitário é o tipo de música mais ouvido no Brasil. Nos anos 90, esse gênero ganhou muita projeção com algumas duplas, como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, entre outros. A partir dessa época, outras duplas surgiram e consolidaram ainda mais o sertanejo no país.

Recentemente, duplas de mulheres têm surgido e feito sucesso na cena da música sertaneja, trazendo também temas do universo feminino para esse estilo musical.

Veja também: História do Sertanejo: a música do nosso sertão

MPB (Música Popular Brasileira)

Caetano Veloso Festival RecordFestival da Record (1967) foi importante para revelar novos talentos. Aqui, Caetano Veloso apresenta a música Alegria, Alegria

A MPB - sigla para Música Popular Brasileira - é um dos gênero musicais mais apreciados no Brasil e também internacionalmente. Surgiu em meados da década de 1960 como um desdobramento da bossa nova e apresentava influência de diversos estilos musicais, na busca de criar um genuinamente nacional.

Com o Golpe Militar de 1964, esse tipo de música também se constitui um forte instrumento de luta contra a repressão. Com um conteúdo contestador, as músicos se posicionavam de maneira contrária às injustiças sociais e à ditadura imposta no país.

Os artistas Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, nomes muito importantes na história da MPB e no contexto sócio-político da época, foram obrigados a se exilar.

Outros artistas notáveis são Elis Regina, Djavan, Milton Nascimento, Gal Costa, Maria Bethânia e muitos outros.

Leia mais sobre esse gênero musical:

·    Músicas da Ditadura Militar

·    MPB - Música Popular Brasileira

·    Bossa Nova

·    Tropicalismo

Samba

Samba CarybéRoda de Samba - obra do artista Carybé

samba é um tipo de música inteiramente brasileiro, criado sobretudo pelos negros a partir de influências africanas no período colonial.

Por bastante tempo foi visto como uma cultura inferior, marginalizada por conta de suas origens. Entretanto, como sempre fez parte da identidade do povo brasileiro, esse estilo de música (e de dança também) resistiu e segue forte no país, sendo que hoje o samba de roda baiano e o samba carioca foram elevados a patrimônio imaterial brasileiro.

Ao longo dos anos esse gênero musical também sofreu várias subdivisões, resultando em:

·    Samba de Roda

·    Pagode

·    Samba de Partido Alto

·    Samba-enredo

·    Samba-canção

·    Samba-exaltação

·    Samba de Breque

·    Samba de Gafieira

São muitos os cantores e compositores que fazem samba. Alguns nomes importantes desse gênero são: Arlindo Cruz, Alcione, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Paulo César Pinheiro, Clara Nunes, entre outros.

Veja também: Samba de Roda

Forró

ForróXilogravura retratando o forró

O estilo de música e de dança forró é uma manifestação cultural típica da região Nordeste e muito tocada na época das festas juninas e quadrilhas.

Apreciada em todo o Brasil, foi disseminada pelo país através dos migrantes nordestinos que saíam de seu lugar de origem em busca de melhores condições de vida, principalmente na década de 1960 e 1970.

Segundo o historiador e antropólogo Câmara Cascudo, o termo forró provém da palavra "forrobodó", que significa divertimento, farra.

O forró tem como base instrumental a zabumba, o triângulo e a sanfona; é subdividido nos ritmos xote, baião e xaxado. Com o tempo também se incluiu outros instrumentos e características a esse tipo de música, o que gerou ainda o forró universitário e eletrônico, surgidos na década de 1990.

Como representantes do forró tradicional temos os artistas Dominguinhos, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

Veja também: História do Forró

Rock

Cassia EllerCássia Eller é um dos grandes nomes do rock nacional.

O rock é um gênero musical que faz bastante sucesso no Brasil.

Surgido nos EUA nos anos 50, esse estilo foi incorporado por artistas brasileiros a partir da década de 1960 e conta com a presença de instrumentos como bateria, guitarra elétrica e baixo.

Com sucessos interpretados por Celly Campello e mais tarde por cantores da chamada Jovem Guarda - como Roberto Carlos, Erasmos Carlos e Wanderléa - eram músicas que animavam sobretudo os jovens, com letras românticas e ritmos frenéticos.

Já nos anos 70, surgiram outros grupos e artistas que usavam essa linguagem musical. É o caso de Raul Seixas, Secos e Molhados e Os Mutantes.

Anos mais tarde, a cena do rock nacional ganhou contornos mais urbanos e trazia letras que falavam sobre o cotidiano, com bandas e cantores como Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs, Cássia Eller, entre outras.

Para saber mais, leia: Rock: a origem e história do Rock and Roll

Funk

Anitta funk cariocaA cantora Anitta é uma representante do funk carioca

O funk teve origem nos anos 60 nos EUA e surgiu a partir de influências da música negra. O nome de maior destaque na época foi James Brown.

A maior característica desse estilo é o ritmo marcado e empolgante, com forte apelo à dança. Esse gênero foi sofrendo várias transformações ao longo das décadas e hoje é bem diferente do que era no início.

Em solo brasileiro, o funk aparece nos anos 70 através de cantores como Tim Maia e Tony Tornado.

Até que na década de 80 surge o funk carioca, que mesclava o hip hop com um som eletrônico. De lá para cá muitos elementos foram incorporados, como letras que tratavam de interesses da juventude suburbana. Assim, o funk tornou-se, sobretudo, parte da cultura periférica brasileira.

Saiba mais sobre esse gênero musical: Origem do funk

Curiosidades

curiosidades musica

·    Celebra-se o Dia Mundial do Rock em 13 de julho. A comemoração teve origem em 1985, quando ocorreu o megaevento Live Aid, realizado nesse dia. O festival teve lugar na Inglaterra, EUA, Austrália, Rússia e Japão e tinha como objetivo angariar fundos em combate à fome na Etiópia.

·    O Dia do Sertanejo é festejado em 3 de maio. Há 55 anos a Radio Aparecida presta uma homenagem ao povo do campo e ao costumes dos violeiros em visitar Aparecida, demostrar sua fé e tocar sua música.

·    O samba possui o dia 2 de dezembro reservado para sua celebração. Tal data surgiu por iniciativa de Luis Monteiro da Costa, vereador baiano. A escolha foi uma homenagem a Ary Barroso, importante sambista, que teria visitado a Bahia pela primeira vez nesse dia.

·    No Brasil, é celebrado em 13 de dezembro o Dia Nacional do Forró, data de nascimento do sanfoneiro Luiz Gonzaga.

·    O Dia Nacional da MPB acontece anualmente em 17 de outubro. Essa é uma homenagem à compositora Chiquinha Gonzaga, nascida nessa data em 1847, no Rio de Janeiro.

Leia mais:

·    História da Música

·    Músicas Folclóricas

·    Tom Jobim

·    Moda de Viola

 

Músicas Folclóricas

Daniela Diana

Daniela Diana

 

Professora licenciada em Letras

As músicas folclóricas são canções populares e tradicionais que fazem parte da sabedoria de um povo.

Esse tipo de manifestação musical é transmitido pela tradição oral e, muitas vezes, o autor da mesma já foi esquecido ou nem mesmo chegou a ser conhecido.

De qualquer modo, estes músicos anônimos dificilmente são profissionais, independentemente do talento.

Confira abaixo as principais músicas folclóricas que fazem parte da cultura brasileira:

cantigas de rodaTela da artista Aracy retratando ciranda. Normalmente, as crianças cantam músicas folclóricas nas cirandas

Pombinha Branca

Pombinha branca, que está fazendo?
Lavando roupa pro casamento
Vou me lavar, vou me trocar
Vou na janela pra namorar
Passou um moço, de terno branco
Chapéu de lado, meu namorado
Mandei entrar
Mandei sentar
Cuspiu no chão
Limpa aí seu porcalhão!

Veja também: Folclore brasileiro: lendas e suas manifestações

O Cravo e a Rosa

O cravo brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada,
O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar,
O cravo teve um desmaio,
E a rosa pôs-se a chorar.

Marcha Soldado

Marcha soldado
Cabeça de papel
Quem não marchar direito
Vai preso pro quartel
O quartel pego fogo
A policia deu sinal
Acode, acode, acode a bandeira nacional

Veja também: Brincadeiras Folclóricas

Alecrim

Alecrim, alecrim dourado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado
Oi, meu amor,
Quem te disse assim,
Que a flor do campo
É o alecrim?

Veja também: Danças Folclóricas

Se essa rua fosse minha

Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Para o meu
Para o meu amor passar

Veja também: Dia do Folclore

Escravos de Jó

Os escravos de Jó
Jogavam caxangá
Tira, põe,
Deixa o zabelê ficar
Guerreiros com guerreiros
Fazem ziguezigue zá
Guerreiros com guerreiros
Fazem ziguezigue zá

Fui ao Tororó

Fui no Tororó beber água não achei
Achei bela Morena
Que no Tororó deixei
Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada

Oh! Dona Maria,
Oh! Mariazinha, entra nesta roda
Ou ficarás sozinha!

Marinheiro só

Oi, marinheiro, marinheiro,
Marinheiro só
Quem te ensinou a navegar?
Marinheiro só
Foi o balanço do navio,
Marinheiro só
Foi o balanço do mar
Marinheiro só

Veja também: 31 Cantigas de roda para brincar com as crianças

Meu limão, meu limoeiro

Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Uma vez, tindolelê,
Outra vez, tindolalá

A barata diz que tem

A barata diz que tem sete saias de filó
É mentira da barata, ela tem é uma só
Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só

A Barata diz que tem um sapato de veludo
É mentira da barata, o pé dela é peludo
Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo!

A Barata diz que tem uma cama de marfim
É mentira da barata, ela tem é de capim
Ah ra ra, rim rim rim, ela tem é de capim

Peixe vivo

Como pode o peixe vivo
Viver fora d’água fria?
Como pode o peixe vivo
Viver fora d’água fria?

Como poderei viver,
Como poderei viver,
Sem a tua, sem a tua,
Sem a tua companhia?

Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Por me ver assim chorando
Sem a tua, sem a tua companhia

A canoa virou

A canoa virou
Por deixá-la virar,
Foi por causa da Maria
Que não soube remar

Siriri pra cá,
Siriri pra lá,
Maria é velha
E quer casar

Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar,
Eu tirava a Maria
Lá do fundo do mar

Boi da cara preta

Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega esta criança que tem medo de careta

Não, não, não
Não pega ele não
Ele é bonitinho, ele chora coitadinho

Cachorrinho

Cachorrinho está latindo lá no fundo do quintal
Cala a boca, Cachorrinho, deixa o meu benzinho entrar

Ó Crioula lá! Ó Crioula lá, lá!
Ó Crioula lá! Não sou eu quem caio lá!

Atirei um cravo n’água de pesado foi ao fundo
Os peixinhos responderam, viva D. Pedro Segundo

Capelinha de melão

Capelinha de Melão é de São João
É de Cravo é de Rosa é de Manjericão
São João está dormindo
Não acorda não!
Acordai, acordai, acordai, João!

Principais Características da Música Folclórica

·    Criação espontânea;

·    Simplicidade e repetição nas letras;

·    Relação com grupos regionais;

·    Constitui uma herança cultural;

·    Sofre variações dependendo da região;

·    Transmitida de geração em geração;

·    Não possui autor conhecido, sendo uma "criação coletiva".

músicas folclóricasCiranda (1942), de Milton Dacosta.

As melodias folclóricas refletem o estilo local e preservam uma herança cultural regional durante longos períodos, visto que encontramos músicas muito antigas.

As mesmas podem ser interpretadas por um solista num país ou por um coro noutra nação; serem pentatônicas numa localidade ou usar escala maior noutra. É comum a alternância entre um solista e um coro nas canções folclóricas, onde cada um canta um verso da estrofe.

Em todo caso, reconhecemos as músicas folclóricas pela forma de encená-la, aprendê-la e difundi-la. Quase sempre, ela está estreitamente relacionada a grupos étnicos, regionais e nacionais.

Outra característica marcante das canções folclóricas é o fato delas sofrerem mudanças ao serem transmitidas de intérprete para intérprete.

Como são muitas as pessoas envolvidas na criação das músicas, ocorre o que se convencionou chamar de "Recriação Coletiva". Assim, se consolida a função regional de cantigas originadas em locais diferentes.

Em função dessas afinidades, os grupos de canções folclóricas se reúnem segundo famílias melódicas e o número dessas famílias melódicas podem variar muito num mesmo repertório.

Neste processo, essas melodias vão mudando gradualmente e gerando variantes regionais e temporais.

Em termos de classificação conceitual, costuma-se opor a música folclórica àquela feita pela sociedade industrial, nos altos círculos da cultura urbana.

Esta comparação é um fruto da descendência cultural da música tradicional ou folclórica, a qual é essencialmente rural, ou, no mínimo, grandemente influenciada por esse meio.

A música folclórica é comum em comunidades mais isoladas, ou seja, em locais onde os meios de comunicação de massa e outros fatores da globalização ainda não chegaram de todo para afetar aquelas populações.

Veja também: Samba de Roda

Tipos de Músicas Folclóricas

As músicas folclóricas abarcam quase todos os tipos de temáticas humanas. Geralmente as letras são simples e possuem muitas repetições, característica muito notória e que facilita a memorização.

Dentre essas músicas, existem as canções de dança, consideradas as mais antigas das cantigas populares e utilizadas para marcar o compasso da dança.

Assim também são as cantigas para as danças e os jogos infantis, mais conhecidas como cantigas de roda.

Uma cantiga de roda que merece destaque é "Ciranda Cirandinha":

Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar!
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar

O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.

Outras cantigas folclóricas muito conhecidas são as canções de ninar, utilizadas para embalar o sono das crianças. Uma das mais populares é a "Nana neném":

Nana neném
Que a cuca vem pegar
Papai foi pra roça
Mamãe no cafezal
Bicho-papão
Saia do Telhado
Deixa o neném
dormir sossegado

Existem também as cantigas de trabalho, que são músicas entoadas durante a lida. Podem ser cantadas individualmente ou em grupo.

Além dessas, há músicas folclóricas que se cantam em velórios, marchas de guerra e outras ocasiões.

Veja também: As 43 Cantigas de Roda mais Populares do Brasil

Quiz do Folclore

7Graus Quiz - Quiz | Quanto você sabe sobre o folclore brasileiro?

Leia também:

·    Lendas do Sudeste que você não pode perder

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·    Cantigas de Ninar - Folclore

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·    Atividades sobre folclore

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MPB - Música Popular Brasileira

Laura Aidar

Laura Aidar

 

Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

A música popular brasileira resulta de um conjunto de manifestações culturais de influência indígena, africana e europeia.

Já o gênero musical MPB (Música Popular Brasileira) é uma referência à produção nacional desenvolvida a partir de um movimento cultural originado após o golpe militar de 1964.

A maioria das músicas produzidas no período contestava a ditadura, trazendo questionamentos sobre a situação brasileira de forma poética.

O Movimento MPB

A década de 60 é considerada um período de ebulição na música brasileira. É quando passam a coexistir o samba, o jazz, a bossa nova, o sertanejo de raiz, a moda de viola, o baião nordestino, o rock e outros.

Esse período é considerado um marco para o cenário da música nacional. Compositores e intérpretes passam a mesclar influências da bossa nova com estilos sonoros produzidos nos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes.

O contexto era o da Ditadura Militar, que cassou direitos e restringiu a liberdade, censurando os movimentos culturais. É nessa conjuntura que jovens músicos começam a contestar o duro regime, criando letras inteligentes e de protesto, muitas vezes de forma disfarçada.

A partir dessa fase é popularizada a sigla MPB como marca de um movimento próprio de contestação social e política.

Além disso, outros temas também foram abordados, como as relações amorosas.

Os Festivais de Música, ou Festivais da Canção, realizados nos anos 60 e transmitidos na televisão, foram muito importantes para que músicos e compositores do período ficassem conhecidos.

Confira um vídeo do Festival de Música Brasileira da TV Record em 1967, em que Chico Buarque o grupo Mpb4 cantam Roda Viva.

Roda Viva - Chico Buarque e Mpb4 (1967)

Nomes da MPB

São muitos os grandes nomes da MPB, sendo difícil listar todas as personalidades importantes desse gênero. Entretanto, podemos destacar o carioca Chico Buarque como um dos maiores representantes, ao lado de Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Gilberto GilMilton Nascimento, Edu Lobo, Nara Leão, Elis Regina, Maria Bethânia, Gonzaguinha, Tom Zé, Os Mutantes, entre outros.

Há ainda o baiano Raul Seixas, que muda a era do rock nacional revelado pela Jovem Guarda. O artista impõe letras marcadas pela contrariedade à rotina, à exploração social e do trabalho.

Como movimento, a MPB também é manifestada pelo lirismo, com letras que abordam as relações amorosas. Nessa faceta da MPB, Chico Buarque é elevado a uma espécie de tradutor da alma feminina, revelando seus desejos, culpas e sonhos no estilo denominado "cantiga e amigo".

Manifestação semelhante é observada no trabalho de Caetano e Gil, além de outros, como Djavan, Gal Costa, Simone e Leila Pinheiro.

História da Música Popular Brasileira

A música sempre esteve presente na rotina das populações nativas do Brasil em rituais e festas religiosas, antes do descobrimento. O canto era entoado para embalar o bate-pau, danças ritmadas com o uso do bambu.

A chegada do colonizador português representou incremento na sonoridade, com instrumentos como violão, viola, cavaquinho, tambor e pandeiro. Até os dias atuais, esses são elementos que remetem à identidade musical local, principalmente no samba.

Somente no século XVII, instrumentos de harmonia mais sofisticada, como o piano, foram incorporados ao arsenal musical local. Ainda assim, ficavam restritos às famílias nobres ou abastadas.

O colonizador português utilizou a música como instrumento de catequese. Os padres jesuítas musicaram peças teatrais e autos como forma de facilitar a compreensão do evangelho. O padre José de Anchieta é reconhecido como compositor de muitas dessas peças e autos.

A tradição das danças, do ritmo e do som africanos foi decisiva para as atuais manifestações da música nacional. O batuque, extraído de instrumentos como atabaques, cuíca, reco-reco, pandeiro e tambor, formam a base do que seria, mais tarde, o samba.

A música popular brasileira também recebeu influência francesa, manifestada nas tradicionais quadrilhas. A dança em pares, comum nas festas de São João, é uma alegoria às danças da corte francesa.

A partir de 1800, a mistura de influências já resulta na composição de modinhas e popularizam o ritmo lundu. Entre os mais reconhecidos compositores de modinha estão Padre José Maurício Nunes, Francisco Manuel da Silva e Cândido Inácio da Silva.

As composições de modinhas e o lundu foram incrementadas com a sonoridade erudita e influenciam para o surgimento de novos ritmos, como a polca, o maxixe e o choro.

O ano de 1870 é tido como ponto de partida do choro, que notabilizou muitos artistas, entre eles Chiquinha Gonzaga. Em 1899, a maestrina e pianista carioca lança "Ó Abre Alas", a primeira marchinha de Carnaval.

O pioneirismo de Chiquinha Gonzaga foi reconhecido por meio da Lei Federal N.º 12.624, que instituiu o dia 17 de outubro como o "Dia da Música Popular Brasileira". A data lembra o aniversário da artista. A trajetória de Chiquinha influencia compositores como Anacleto de Medeiros, Irineu Almeida e Pixinguinha.

As composições de Pixinguinha representaram um divisor de águas na história da música popular brasileira. Isso ocorreu por estarem diretamente ligadas ao surgimento do samba.

O gênero samba, que surge a partir de 1917, é considerado uma revolução e inspira compositores como Ernesto Joaquim Maria dos Santos e Mauro de Almeida. Pixinguinha, porém, é sua melhor tradução.

Até 1950, choro e samba revelam nomes como Jacob do Bandolim e Nelson Gonçalves. Essa é a época da chamada "Era do Rádio", com a influência de intérpretes como Dalva de Oliveira, Caubi Peixoto e Ângela Maria.

O início dos anos 50 também são destacados pela influência de Cartola, considerado um dos maiores mestres do samba nacional. A melodia de Cartola é revelada também na voz da gaúcha Elis Regina.

Paralelo ao sucesso do samba e do choro, surge nos anos 50 o movimento que ficou conhecido como Bossa Nova. O movimento demonstra o cotidiano local, em especial o carioca e sua malemolência.

A melodia suave foi perpetuada por Tom Jobim, com letras de Vinicius de Moraes. A Bossa Nova evidenciava a mistura da música erudita aos ritmos nacionais e recebeu reconhecimento internacional.

Entre seus representantes está também o compositor e intérprete João Gilberto.

Esse gênero é o ponto de partida para movimentos que ocorrem em paralelo entre o fim da década de 50 e a década de 60. São a Tropicália e Jovem Guarda, que apontam o cotidiano, mas demonstram a rebeldia, o questionamento às instituições oficiais.

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Laura Aidar

Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.

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Músicas da Ditadura Militar

Juliana Bezerra

Juliana Bezerra

 

Professora de História

música popular brasileira foi um dos principais instrumentos utilizados para contestar a ditadura militar (1964-1985).

As letras de várias canções indicavam a insatisfação com o regime e vários compositores foram alvo de censura e perseguição.

Apontando insatisfação direta ou usando metáforas, tiveram que se auto exilar para evitar as sucessivas convocações para depoimentos e a possibilidade de prisão.

Vejamos agora seis canções que ajudam a entender este período:

1. Apesar de você (Chico Buarque, 1970)

Disco Apesar de VocêCapa do disco "Apesar de você", de 1978

O compositor, cantor, dramaturgo e escritor carioca Chico Buarque tem uma das maiores produções voltadas para a crítica à ditadura militar. Seu trabalho recebe influências do samba e do lirismo do cotidiano.

Ao fim da década de 60, foi criticado por não se posicionar politicamente, mas quando o fez, precisou buscar o autoexílio em Roma em 1968, e só retornou ao Brasil em 1970.

Seguindo o conselho do poeta Vinícius de Moraes, o compositor volta ao Brasil fazendo barulho. Submete a letra da canção "Apesar de você" à censura e explica que se tratava de uma briga de casal. O ritmo escolhido, o samba, não deixava dúvidas que se tratava de um tema de ruptura amorosa.

Os censores não perceberam a mensagem que escondia em cada uma das metáforas e, para a surpresa do compositor, liberaram a obra. "Apesar de você" foi lançada como um single (disco que continha apenas duas músicas, uma em cada lado do vinil).

Desde o primeiro verso "Amanhã vai ser outro dia", fazendo referência a uma possível queda dos militares, a letra criticava o regime militar. A música alcançou um sucesso estrondoso e foi tocada nas rádios de todo o país. Quando os militares quiseram censurá-la, já era tarde.

"Apesar de você" seria liberada em 1978 e faria parte do disco que reuniria outras canções famosas de Chico Buarque como "Tanto mar" e "Homenagem ao Malandro".

Apesar De Você

Apesar de você

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
(.....)

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia

2. Pra não dizer que não falei das flores (Geraldo Vandré,1967)

Geraldo Vandré ditadura militarGeraldo Vandré se apresenta no Festival de 1968

É do paraibano Geraldo Vandré uma das músicas mais entoadas nas passeatas realizadas contra regime militar. A canção "Pra não dizer que não falei das flores" retrata a realidade brasileira ao mesmo tempo que conclamava a população a reagir contra a situação política que vivia o país.

Versos como "Pelos campos há fome/ em grandes plantações" revelavam a desigualdade sócio-econômica do Brasil. Por outro lado, "Vem, vamos embora/ Que esperar não é saber" era um convite para mudar a situação do momento.

O tema foi apresentado no Festival Internacional da Canção em 1968, mas perdeu para "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim. Interpretada pelo pelo duo Cynara e Cybele, a canção recebeu uma estrondosa vaia do público.

Geraldo Vandré deixou o Brasil naquele ano e só voltaria em 1973, sem jamais ter voltado ao cenário artístico brasileiro.

Apesar de a música ter sido amplamente usada pelos opositores da ditadura, Vandré jamais concordou com o uso que parte da esquerda fez de sua composição. Definia-a como uma "música urbana e crônica da realidade" e não como canção de protesto.

Nunca escondeu sua admiração pela Aeronáutica e inclusive escreveu "Fabiana" em homenagem à Força Aérea Brasileira (FAB).

Geraldo vandré ( ao vivo no maracanãzinho )

Pra não dizer que não falei das flores

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Veja também: AI-5 (Ato Institucional nº 5)

3. O bêbado e a equilibrista (Aldir Blanc e João Bosco, 1975)

João Bosco e Aldir BlancOs compositores João Bosco e Aldir Blanc

Ambos recorreram a metáforas para aludir a fatos nunca explicados pela ditadura militar, como a queda do elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro ("Caía a tarde feito um viaduto").

Igualmente, o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, é retratado através da frase "Choram Marias e Clarices". A Clarice mencionada faz referência a Clarice Herzog, esposa de Vladimir.

Inicialmente, a letra homenageava a Charles Chaplin e seu célebre personagem, Carlitos. No entanto, a partir de um encontro com o cartunista Henfil, foram acrescentados os versos em alusão ao "irmão de Henfil", Betinho, que estava exilado.

Também lançam mão de expressões populares como "pátria mãe gentil" e ditados como "o show tem que continuar" a fim de tornar a letra acessível a todos os públicos.

A canção resume o sentimento daqueles que clamavam pela anistia aos exilados e a quem perdeu os direitos políticos. Foi gravada em 1979, no mesmo ano em que é assinada a Lei da Anistia e se tornou um hino daqueles tempos.

Elis Regina O Bêbado e A Equilibrista

O bêbado e a equilibrista

E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil

Meu Brasil!
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete

Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil

Veja também: Vladimir Herzog

4. Cálice (Gilberto Gil e Chico Buarque, 1973)

Gil e ChicoGilberto Gil e Chico Buarque, autores de Cálice

O cantor e compositor Gilberto Gil escreveu em parceria com Chico Buarque uma das mais marcantes canções em oposição à ditadura. "Cálice" foi composta em 1973, mas só foi liberada pela censura em 1975.

A obra é uma metáfora ao momento de súplica de Jesus Cristo, consciente de que será morto, para que o Pai afaste dele o cálice (destino). Contudo, Gilberto Gil aproveitou da paronomásia produzida pelos som das sílabas, pois é possível também escutar "cale-se" do verbo calar-se.

Assim, a letra induz que seja afastado do povo o "cale-se", ou seja, a censura, imposta pelos ditadores.

Na história bíblica, Jesus Cristo sabe que será torturado e que a morte será marcada por sangue. Da mesma maneira, a canção denuncia o sangue derramado pelos torturados nos porões da ditadura.

A melodia e o coro tornam a letra mais impactante. Em uma das gravações, com Chico Buarque e Milton Nascimento, a palavra "cale-se" é repetida cada vez mais forte pelo coro masculino realizado pelo quarteto MPB4.

Na última vez que a estrofe é repetida, os instrumentos desaparecem, e o efeito das vozes solistas acompanhadas pelo coro tornam a mensagem perturbadora.

Cálice (Cale-se). Chico Buarque & Milton Nascimento.

Cálice

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Veja também: O que é ditadura?

5. Alegria, alegria (Caetano Veloso, 1967)

Caetano e Gil no exilioCaetano Veloso e Gilberto Gil durante o exílio em Londres

As canções do baiano Caetano Veloso também marcaram a crítica contra a ditadura. Entre as mais importantes está "Alegria, alegria", que inaugura o movimento Tropicalismo no Brasil.

A música foi apresentada no Festival da Canção, em 1967, e terminou em 4º lugar. Mais tarde, seria consagrada como uma das mais importantes da história brasileira.

Trata-se de uma marcha com forte acento da música pop americana. Caetano Veloso acrescenta guitarras à instrumentação, fiel a sua proposta de canibalizar as influências estrangeiras.

A letra pode ser entendida como as impressões que uma pessoa se depara quando está "caminhando contra o vento". Na rua, ela vê "O sol nas bancas de revista/ Me enche de alegria e preguiça/Quem lê tanta notícia". Da mesma forma faz referência à situação política que atravessava o Brasil "Por entre fotos e nomes/ Sem livros e sem fuzil".

No último verso, um desejo que se tornaria profético para todos os opositores à ditadura militar "Eu quero seguir vivendo, amor". A letra foi considerada desrespeitosa e não passou pelo crivo dos censores.

Caetano Veloso seguiu com Gilberto Gil para o autoexílio entre 1969 e 1971, em Londres.

Alegria, Alegria (Remastered 2006)

Alegria, alegria

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento
Eu vou

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção consola
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome sem telefone
No coração do Brasil

Veja também: Tropicalismo

6. Debaixo dos caracóis dos seus cabelos (Roberto e Erasmo Carlos,1971)

Roberto Carlos e Erasmo CarlosErasmo e Roberto Carlos

Ícone da música romântica, Roberto Carlos, liderava a Jovem Guarda, que introduziu o rock n'roll no cotidiano do brasileiro. Roberto Carlos não se declarou contra o regime, e sua música, que falava dos problemas da juventude, fizeram o artista ser visto como simpático à ditadura militar.

No entanto, em 1969, Gilberto Gil e Caetano Veloso são "convidados" a se retirar do país e vão para Londres. Ali, Veloso escreveria uma de suas maiores baladas, "London, London", que descrevia a tristeza que sentia por estar longe da Bahia.

Roberto Carlos teve oportunidade de visitá-lo na capital britânica e, ao voltar para o Brasil, decidiu fazer uma canção em homenagem ao amigo. No entanto, se falasse de Caetano explicitamente, a letra seria censurada. A solução foi recorrer à metonímia e utilizar os cabelos encaracolados de Caetano Veloso para aludir ao artista sem precisar dizer seu nome.

Escrita em parceria com Erasmo Carlos, a letra faz menção à tristeza que Caetano estava vivendo no exílio. O sentimento é expresso em versos como "E o seu olhar tristonho/deixa sangrar no peito/Uma saudade, um sonho". Contudo, também dava apoio e esperança ao amigo ao mencionar a "areia branca" e a "água azul do mar" das praias baianas.

O protesto não foi notado pelos censores, acostumados às letras que tratavam de amor e paixão de maneira rocambolesca.

Caetano Veloso e Roberto Carlos realizaram inúmeras gravações desta música ao longo de suas carreiras.

Roberto Carlos - Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos (Áudio Oficial)

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos

Uma história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante

Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho

Um dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso

Veja também: MPB - Música Popular Brasileira

Leia nossos textos sobre Ditadura Militar no Brasil:

·    Milagre Econômico

·    Diretas Já

·    Democracia no Brasil

·    Anos de Chumbo

·    Golpe Militar de 1964

·    Questões sobre a Ditadura Militar